Cuidamos do Departamento de Comunicação da SUIPA – Sociedade União Internacional Protetora dos Animais, voluntariamente, de 1998 a 2004. Uma das campanhas foi para que a entidade recebesse doações e pudesse ter a sua primeira ambulância. Em seis meses, o veículo foi comprado e equipado para o resgate nas ruas. Uma grande vitória!
Essa página é um tributo a Izabel Cristina do Nascimento, que partiu para o andar de cima em 2016 sem ver
a SUIPA voltar a ser uma entidade filantrópica.
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6 de setembro de 2016 próximo a Rio de Janeiro ·
No dia em que a Bebel morreu (tivemos nossas diferenças, que não foram poucas, e nossas vitórias, que foram muitas), alguém – um amigo especial – ligou e eu ofereci minha ajuda, dentro das minhas possibilidades. Bebel me ensinou 80% do que sei sobre proteção animal e, mais que isso, ela sabia de todos os problemas da SUIPA, os que tentei resolver, e os que sabíamos que não tinham solução. Durante anos eu ia para lá, sentava com ela e decidíamos muitas das coisas que hoje são realidade.
Daqui a 50 anos, se eu tiver a sorte de chegar lá, ainda vou lembrar do jeito dela, de gargalhar, de brigar, de sentar e conversar, pedir conselhos, dar conselhos, me chamar de Cabeludo, das suas idas à minha casa, quando deitava no sofá e comia as empadinhas de queijo que eu mandava fazer para ela… E principalmente, da coragem que ela tinha para enfrentar o mundo e salvar um animal. Para ela, ficar na frente de um policial armado, ou de um traficante armado, para proteger uma vida, era normal.
Bebel foi a pessoa mais maluca e mais corajosa que conheci. Era frágil em seus momentos de tristeza, e uma leoa em suas lutas. Uma grande mestra. Talvez a maior perda que tivemos na proteção animal…
Realmente fico triste ao pensar que não vou mais saber dela…
Uma coisa importante é, nesse momento, não julgar se a SUIPA é (ou era) bem administrada ou não, se deveria ser eutanásica ou não, se era super populosa ou não, se era fácil ou difícil adotar e se a taxa de mortalidade era tão grande que não fazia sentido o abrigo existir.
Quando a Bebel assumiu a SUIPA (que existe desde 1953), o chão era de terra, os animais que morriam eram enterrados e, por vezes, desenterrados pelos companheiros famintos. E a credibilidade era pequena, muito pequena.
Bebel, para quem não sabe, era comissária de bordo e foi aposentada por invalidez, após uma caixa cair em sua cabeça em uma loja nos Estados Unidos, se não me engano. Tudo o que ela tinha, dava para a SUIPA, ou gastava com os animais de lá.
E para quem adora perguntar aos protetores por que não ajudam pessoas ao invés de animais, é importante que saibam que ela ajudava pessoas também. Eu mesmo fui com ela algumas vezes a favelas e outros lugares esquisitos, e, sob o pretexto de levar ração para os animais, ela ajudava pessoas com alimentos comprados com o seu dinheiro, sabe-se lá a custa de quais sacrifícios.
Uma vez, após testemunhar o meu estresse com um cara que levou uma boxer bem velhinha na mala do carro, para que não morresse na casa dele, Bebel me disse:
“_Cabeludo, você não pode mudar o mundo. O que podemos fazer é colocar a cachorrinha no soro e oferecer a ela uma morte digna. Esse filho da puta vai jogar a melhor amiga na lixeira, longe daqui, e não poderemos fazer nada por ela…”
Esse era o pensamento da Bebel. Eu não sei se um dia chegarei a compreender, de fato, essa atitude. Mas ela tinha a certeza absoluta de que era melhor a SUIPA receber os animais abandonados do que estes serem mortos com veneno, afogados, enterrados vivos ou largados na estrada. Pensando por esse ponto de vista, realmente era.
O protetor animal em “início de carreira” acha que pode mudar o mundo. Muitos se dedicam a isso. Essa luta os torna agressivos e revoltados. Eu briguei muito, discuti muito (já não tenho o melhor dos temperamentos), critiquei muito, até ser capaz de entender que cada um faz o que pode, e que, por estar na rua resgatando, eu não era melhor do que a senhorinha que passava o dia no computador compartilhando postagens.
A grande verdade é que a CONSCIENTIZAÇÃO é que faz toda a diferença, apesar de o esforço individual para salvar vidas ser crucial para a maneira que encaro a “coisa”:
Se você puder salvar apenas uma vida, todo e qualquer esforço terá valido a pena!
É isso. A SUIPA precisa de todos nós, arregaçando as mangas, compartilhando, espalhando a idéia e doando ração!
Abraços a todos!